domingo, 24 de novembro de 2013

Comecei hoje...

Olha... criei um blogue!Até dá para rir... não tenho como objetivo criar literatura ou ter seguidores. Apenas quero falar, dizer o que me vai na alma. Para não rebentar. Quando era adolescente, jovem mulher, escrevia até me doerem os dedos, as mãos, até não poder mais! Folhas, folhas e mais folhas. Agora, os computadores dão mais jeito... Fazem doer menos as mãos... e o que nos vai na alma escorre mais depressa, mais facilmente, sem nos obrigar a pensar demais. Preciso mesmo de um escape. Vou tentar que este "psicólogo" silencioso me ouça e me ajude a encarar os dias e a vida que aí vem com menos amargura. até qualquer dia... agora vou dormir. Preciso mesmo de descansar...

23 de novembro

Pergunto-me para que serve isto, mas enfim... ninguém vai ler, vou ouvir-me a mim própria. Sempre é melhor do que nada! Pois aqui estou eu, 51 anos, casada, dois filhos maravilhosos que são a razão da minha vida. e é isto. Ah! Sou também professora de Inglês do 3º Ciclo e Secundário, o que não é de somenos importância porque adoro a minha profissão e acho sinceramente que dou um contributo válido à sociedade com o trabalho que faço. Muito mais válido do que é reconhecido pela população em geral e pelos sucessivos governos em particular... mas a vida é assim mesmo e não vale a pena lamentar o que parece já não ter remédio. Na minha profissão, o que conta são os meus alunos e esses, em geral, reconhecem em mim o carinho, o esforço e a dedicação. Chega.
E na minha vida pessoal? O que conta? Para além do meu filho quase com 20 anos e da minha filha de 16, da minha mãe que adoro e do meu irmão (10 anos mais novo, quase o meu primeiro filho no que aos sentimentos diz respeito!), das minhas sobrinhitas e da minha cunhada (família restrita, portanto), pouco mais resta. 23 anos de um casamento com um homem 11 anos mais velho que (acho) amei profundamente até descobrir que era enganada. Um homem completamente diferente de mim, com toda uma vida atrás de si que me apanhou num redemoínho de emoções desconhecidas, a mim que, aos 27 anos, ainda era uma ingénua. Um homem com uma guerra, com um divórcio, com uma filha complicadíssima, com uma cabeça alterada, com toda uma vivência que eu, filha de um casal feliz e tranquilo da classe média, mãe doméstica e pai militar (Oficial das forças Armadas), não consegui perceber que ia virar a minha vida do avesso, Amava-o, e isso bastava. Amava-o e estava pronta para tudo, para tentar perceber todos os transtornos que uma personalidade muitas vezes perturbada me traria, que uma relação doentia com uma filha de 10 anos sem regras, sem limites, sem leis, me traria. Sem perceber o quanto seria difícil lidar com alguém proveniente de uma família quase disfuncional, com alguém que via a família quase como um fardo e não como algo gratificante que existe para nos dar mais alegrias do que tristezas. Convenci-me, na minha ingenuidade, que formariamos os dois algo diferente, algo que ele prezaria pelo amor que eu sabia que me tinha, algo que o amor pelos nossos filhos em comum o ajudaria a valorizar, acarinhar, defender.
Tivemos momentos felizes. Muito felizes. Quando as coisas eram feitas como ele queria, tudo era perfeito, maravilhoso.
Bateria em baixo... mais tarde continuo. See you...

24 de novembro
Foi um fim de semana tranquilo como há muito não me acontecia. A minha filha foi à sua primeira festa de adolescente (quase) independente, dormiu em casa de uma amiga e não esteve, portanto, cá; o meu rapaz lá está na sua vida longínqua, em Aveiro: dei comigo a pensar que não aguentava passar uma noite e um dia nesta casa, sozinha com um marido a quem já pouco ou nada tenho a dizer, a não ser (reconheço) recriminações e pedidos de satisfação de tanto sofrimento que tenho vindo a conhecer, por ele. Pedi abrigo aos meus amigos, dormi na casa de uns deles , sentindo-me querida e acolhida, quente e confortável na alma, embalada pela doce sensação de uma família feliz e tranquila. Dormi que nem uma pedra, mesmo com as interrupções, pelas 3 e tal da manhã, das mensagens da minha filhota, a dizer que estava a sair da festa, a dizer que tinha chegado bem a casa da amiga... E eu lia , e respondia, e voltava a um sono tranquilo e reconfortante como já há muito não conhecia. De manhã, um café tranquilo com a minha amiga, numa esplanada linda sob um sol resplandecente de Outono, seguido de um passeio a pé, retemperador. À hora do almoço, outra amiga que telefona, "Como é que estás, amiga, queres ir até Sines comigo?", claro que quero, mesmo que seja para ir fazer compras para o Continente... Quando voltei a casa pelas 17 horas, sentindo-me livre e aliviada, a minha filhota já cá estava, a estudar para o seu teste de amanhã, cumpridora como sempre. Fiz um grande bolo de chocolate, atirei-me com coragem a um teste de listening para o 9º ano (detesto elaborar estes testes, são sempre tão dificeis para os meus pequenos...), bebi uma sopa quente e comi uma fatia de bolo rei (mmmmm), com a companhia preciosa da minha filha, agarrada ao seu facebook e vendo pelo canto do olho o "seu" Sporting (lá marcaram um golo no final do jogo, que alívio, mãe, também já mereciam, não achas, acho, sim, filha, embora nem tenha olhado para lá...)... e ele fora, a ver o jogo no núcleo do Sporting, e eu tão, tão aliviada por estarmos cá sozinhas.
Porquê isto? Como cheguei aqui? Quantas mulheres por esse país fora me entenderão? Muitas...? Poucas....? O meu marido não me trata mal. Isto é, não me bate, não me agride, não me deixa abandonada, não "se está nas tintas" para a minha saúde... mas para além disto...? Eu tinha grandes expetativas de um casamento. Uma equipa. Um companheiro. Um parceiro. Um amigo. Um amante. Um "Estou aqui para tudo".
E eu? Fui tudo isso? Fui... com falhas, claro. Muitas, claro. 23 anos de muita coisa, de muita vivência. Mas procurei estar sempre lá quando ele precisou. Estive lá quando ele tinha ataques de pânico por causa da guerra. Estive lá quando os pais dele precisaram, idosos, com poucos recursos, com pouco carinho, com uma neta inútil sempre às costas. Estive lá quando a filha dele se meteu nas drogas e ia dando conta da vida da família, tendo em conta que os meus filhos, na altura, tinham 3 e 7 anos. Estive lá quando ele teve conflitos profissionais porque tem a sua maneira muito própria de ver e viver a profissão, que muitas vezes lhe criou inimigos e conflitos, mas eu sabia da sua sinceridade, do seu saber, apoiei-o sempre, mesmo quando não concordava com o seu modo de dizer as coisas. Estive lá quando lhe foi diagnosticado um linfoma grave, um dos períodos mais negros da nossa vida, mas que ele ultrapassou com a bravura e a coragem de um verdadeiro combatente. Estive sempre lá, como sabia e podia...
Em troca recebi muito afastamento, muita desconsideração pelos meus sentimentos. Passei muitos serões sozinha em casa, ao longo dos anos. Passei muitos fins de semana sozinha com os meus filhos. Passei por uma amante de forma descarada, que durou um ano letivo inteiro, o mesmo ano em que a doença do meu pai se agravou e ele acabou por morrer, no mesmo ano em que, com filhos com 4 e 8 anos, tinha aulas à noite e ele não aparecia a horas porque não largava a a outra e eu cheguei a ter de os levar comigo para uma escola gelada, a uma hora a que deviam estar a dormir para irem para a escolinha no dia seguinte. Passei por noites sem fim à espera de o ver chegar de uma noite de copos, sem avisar, sem dizer nada, até às 4 ou 5 da manhã, achando, quando confrontado ao chegar, que nada tinha que justificar, porque "estou aqui, não estou? Voltei, não voltei?" Passei por humilhações indescritíveis ao ler no telemóvel mensagens pornográficas dirigidas a outras mulheres, brasileiras e não brasileiras, dando conta de como era um prazer estar com elas, de como eram bonitas e um sem fim de outras coisas que me faziam arder o coração e a alma numa fogueira de humilhação. Passei por ser ignorada na cama durante anos a fio, sem uma conversa, uma explicação, um "vamos conversar" para podermos resolver qualquer tipo de problema que pudesse existir (porque, sexualmente, e a acreditar no que me foi dito durante anos, eu era tudo o que ele mais queria...). Senti-me ignorada quando, semanas, meses, anos a fio, o vi entregue ao computador, à Internet, ao Facebook (onde também troca todo o tipo de alarvidades com outras mulheres...), sem atender aos meus pedidos para me dar atenção, para estar comigo, para partilhar comigo um serão, um programa de TV, uma conversa...
Passei a odiar tudo isto. Passei a viver obcecada com o telemóvel e com as coisas que ele dizia às outras e não me dizia a mim. Passei a sofrer com o barulho do teclado, noites inteiras atrás de mim. Comecei a desconfiar de tudo. Apanhei relacionamentos incongruentes e mensagens inaceitáveis com qualquer uma. Vi os meus amigos serem postos de lado, rebaixados, apoucados, porque não eram como ele achava que deviam ser (não eram desavergonhados, davam importância à família, aos amigos, aos sentimentos, não são agachados ao poder agora instituído na escola, e por isso não valem nada, não são dignos de nada...)
Passei a não confiar em mim. Casei com uma baixa auto estima, que ele ajudou a levantar como nunca me tinha acontecido. Senti-me amada, querida, desejada... e de repente, tudo isso desapareceu. Não soube, até hoje, porquê. Claro que a amante, há 11 anos trás, não ajudou nada. Foi um golpe tão grande para mim que nunca recuperei. Maior foi quando 7 ou 8 anos depois apanho mensagens para outras mulheres, em termos que eu não sou capaz de repetir aqui. Nessa altura, ele saiu de casa por 4 meses.Mas eu amava-o. Ele fez-me falta. E estava tão triste e infeliz como eu e fez-me promessas, e eu acreditei... e passei a ter de novo um marido de computador, incapaz de me acompanhar, incapaz de me amar, dedicado a outras... e sempre a repetir que tal não tinha importância nenhuma, porque não tem nada com elas e porque eu é que sou a mulher da vida dele... e que se eu quiser posso ter amantes, posso ir com outros, porque o que ele quer é que eu seja feliz... e eu não sou capaz de aguentar isso! Quem ama não quer partilhar. Quem ama não quer outros pelo meio. Quem ama... AMA! Amar não é, não pode ser, querer ver o ser amado com outros. Eu não consigo aceitar isto... não consigo e não quero. Tenho 51 anos. Quero ser amada e respeitada. Quero ser querida e desejada. Quero ser, acima de tudo, considerada. Tenho esse direito... ou não?
Será que há mais mulheres  como eu? Será que sou assim tão diferente? Será que estou assim tão errada?...
Quero dar uma volta à minha vida. Descobri agora que AGORA gosto de estar sozinha, entregue a mim e aos meus filhos. Descobri que quero uma vida nova. Descobri o inimaginável: ele já não me faz falta.                    






































































































































 agachados ao poder instituído na escola, não partilhavam das ideias dele e por isso não prestavam).


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